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Asanas

Recentemente participei do Workshop Internacional com Rita Keller, no Studio Iyengar Yoga em São Paulo. 
Fiquei encantada com a forma como ela conduziu todos os dias de estudos. A leveza em demonstrar o sentido da forma como conduzir uma prática, e a beleza de relembrar a nós professores, nosso papel em relação ao aluno. Não de fazê-los virar do aveso, mas sim de que se reconheçam e se transformem através da prática. Para que conheçam e reconheçam seus próprios corpos, e ao se (re)conhecerem, possam tocar algo de mais profundo dentro deles mesmos. Nós como professores, mas também alunos, temos que ter este olhar para a prática. É um olhar profundo e verdadeiro que diferencia uma prática de yoga de tantas outras práticas físicas.

Este texto retirado do próprio site do Estúdio, pode ser lido na integra em: http://www.iyengaryogasaopaulo.com.br/principios-gerais-para-todos-os-asanas-parte-1/ 
Espero que aprecie, 
Namastê
Marcela

Princípios gerais para todos os asanas – 1° Parte

“Yoga tem um começo, mas não tem fim” – GeetaIyengar
Yoga não é um exercício; É uma exploração. Os asanas não são posturas estáticas, mas um diálogo dinâmico com o seu corpo, que é diferente todos os dias. Yoga não é tanto um meio para alcançar algum resultado como flexibilidade ou saúde como um caminho ao longo da vida de aprofundar a “inteligência” do seu corpo, para usar a linguagem do Sr. Iyengar.
Se você estivesse aprendendo yoga centenas de anos atrás, aprenderia por tentativa e erro, adquirindo conhecimento dos alinhamentos sutis do corpo gastando muitas horas em cada asana. Yoga é aprendido ao permanecer-se muito tempo em cada pose. Não há outro caminho. Mesmo que como praticantes modernos tenhamos o luxo de professores explicarem alinhamentos adequados para nós, para nos salvar de ter que descobri-los por conta própria, ainda assim não há atalhos.
O benefício da prática do yoga vem quando ela é feita todos os dias, de forma consistente, anos após anos. Considere sua prática de yoga como um tempo de renovação e exploração, não um tempo para fazer progresso em direção a flexibilidade. Progresso vem em ciclos curtos e longos planaltos. Pratique diariamente, sem prestar muita atenção ao progresso que estiver fazendo.
Em cada asana, trabalhamos no sentido de alcançar uma certa quantidade de “sem esforço fazendo esforço”. Isso acontece, em parte, a partir de um alinhamento adequado que permite que seu corpo suporte a si mesmo mais e mais em sua estrutura esquelética do que com esforço muscular, e também por meio de um tipo de memória somática obtida através da repetição. É sempre bom se perguntar quando você está mantendo um asana qual o esforço muscular que você pode dispensar e ainda manter a postura intacta. Elimine esforço físico desnecessário. Não fique estático em nenhum asana – sinta onde você está e faça alguma coisa. Sinta constantemente onde suas “bordas” estão, tentando empurrá-las de volta suavemente. Em cada pose, continue procurando por um lugar melhor e sem esforço. O corpo de cada pessoa é diferente. Alguns sempre serão menos flexíveis que outros. Ter menos flexibilidade não impedirá uma pessoa de se tornar um praticante de yoga avançado. A flexibilidade mais importante é a da mente e das emoções. Fisicamente a questão é: você pode executar as ações e os alinhamentos necessários para conseguir respirar profundamente no asana e fazê-lo com esforço cada vez menor?
O yoga é muito não competitivo. Não há motivos para competir com os outros e não há valor em com você mesmo. Você será diferente a cada dia na sua prática no que se refere a diversos fatores como flexibilidade, concentração, consciência e nível de energia. Se faz um ano que você iniciou sua prática de yoga e você está literalmente na mesma posição em um asana, mas sente-se mais confortável no mesmo, então você progrediu. Todos tem suas limitações, mesmo que pareçam tão perfeitos ao olhar comum. Sua prática diária deve reduzir sua lista de limitações, independente da lista de limitações dos outros. Lembre-se, no yoga, um centímetro é uma distancia grande. Algumas vezes leva-se anos para mover-se um centímetro.
Todos nós vivemos em uma pequena caixa chamada nosso “corpo”. O quão fortes nossos tendões ou panturrilhas são é só uma das faces de nossa “caixa”.
A prática de yoga nos permite expandir todas as bordas da nossa caixa, para que possamos começar a viver um pouco mais livremente, com uma sensação de facilidade, como viver em uma caixa maior todos os dias.
Os asanas são projetados para ter tanto um efeito físico quanto um mental e este efeito não depende, de forma alguma, do quanto você consegue inclinar seu tronco a frente em Paschimotanasana ou se você pode tocar seus dedos em Uttanasana. Quando você pratica yoga, em algum lugar ao longo do caminho você toca os dedos dos pés, mas isso é só um ponto de uma vida toda se esforçando para liberar-se das amarras de sua “caixa” e não significa uma “meta” para atingir ou nada tão significativo. O aspecto importante da prática de yoga é receber os benefícios dos asanas em pequenas doses diárias ao longo dos anos. Mero contorcionismo não é yoga se for feito sem prolongar a inteligência para cada parte e camada do corpo ou se for desprovido do aspecto espiritual. O que torna algo yoga não é tanto o que é feito, mas como é feito e qual o efeito de fazê-lo.
Flexões para trás massageiam as glândulas supra-renais e nos estimulam com um aumento de catecolaminas. Elas aumentam a autoestima emocional. Flexões para frente são calmantes. Eles são poses de rendição. Até mesmo a mais profunda flexão para frente deveria tranquilizar, flexões para trás são poses de extroversão. Flexões para frente são poses de introspecção.
Uma vez que os movimentos grossos de um asana foram alcançados, você deve começar a trabalhar sobre as ações mais sutis. Às vezes, um asana pode ser desafiador demais como uma unidade inteira para permitir o trabalho nas pequenas ações das partes do corpo individualmente. Neste caso, você pode precisar utilizar adereços ou modificar a pose para remover alguns dos desafios e permitir que você trabalhe em pequenas ações individuais. Um dos grandes presentes do Sr. Iyengar para o yoga é o seu uso detalhado de props (materiais) e modificações asana. Depois de integrar estas pequenas ações individuais, você pode restaurar a postura à sua forma completa sem props para praticar os desafios inerentes à postura como um todo.
Os detalhes sutis dos alinhamentos dos asanas podem ser tão numerosos que concentrar-se em muitos deles de uma só vez torna-se quase impossível. Felizmente isso não é nem necessário nem aconselhável. É perfeitamente razoável tomar certos alinhamentos específicos para concentrar-se durante uma determinada sessão, dando menos atenção para outros. Através da repetição e da maturidade da prática, como o nosso aprendizado celular se aprofunda e nossa consciência se expande por todo o corpo, muitos dos alinhamentos podem ocorrer praticamente de maneira espontânea ou habitual, sem pensamento consciente.
Nunca se apresse em tentar tudo de uma vez. Mova-se devagar e gradualmente para a postura mais profunda. Quando você começa a mover-se para um asana, sinta o primeiro local de tensão ou a dificuldade que você está alcançando. Faça uma pausa naquele local, e relaxe. Esclareça a sua postura, e aguarde as sensações de estiramento, dor ou tensão pararem aos poucos. Então aprofunde a postura até encontrar uma nova dificuldade. Faça uma pausa de novo, respire. Repita esse processo repentinamente até chegar à extremidade limite para aquela pose naquele dia, quando as sensações de tensão não forem mais liberadas com espera suficiente.
Depois de ter feito todos os ajustes e ações que você sabe como fazer em um determinado asana, em seguida, a prática daquele asana começa. Você precisa permanecer na postura por um período de tempo antes de desfaze-la, permitindo que seus limites se suavizem. Resista à tentação de sair do asana quando tiver finalizado todos os ajustes que você sabe realizar. Mantenha a posição e aguarde a sugestão interna para saber que é hora de sair do asana. Não há nenhum limite final ou postura final. Novas limitações sempre aparecem.

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